…Ilha de Marajó (PA), Brasil – Turu (viagra bivalve)

Com legumes e coentro, caldinho de Turu (Nota da redação: contro é controverso...)

Com legumes e coentro, caldinho de Turu (Nota da redação: coentro é controverso…)

Muito mais gente, além de mim, tem boca por aí :-). E o blog é aberto para as mastigadas alheias. Inaugurando as colaborações, a Bianca Antunes conta suas peripécias no norte do país, com texto e fotos dela. Ela é jornalista e, nas horas vagas, viajante de primeira, como ela mesma conta: “A sensação de ter tudo o que preciso em uma mochila nas costas andando por um lugar que nunca estive antes é como um carregador de bateria: todos os meus problemas diários ficam pequenos. A essa experiência se unem sabores que nunca foram provados, e o gostinho da comida nova fica como a lembrança que ninguém pode tirar.”

Quando ofereci à Cíntia minhas experiências para contribuir nesse blog pensei em todas as coisas gostosas que já comi pelo mundo – e algumas delas são a razão de eu querer voltar muito a alguns deles (não me julgue se você nunca se viciou em baklava na Turquia ou em gelato na Itália a ponto de comer pelo menos um por dia quase chorando porque estava na hora de voltar pra casa). Pesquisando nos arquivos de viagens, encontrei fotos de uma iguaria da Ilha de Marajó, de aparência e textura que não, definitivamente, não dão água na boca. E pensei: por que não começar com um post à la ‘comidas exóticas’? Et voilà: com vocês, o turu. Turu é um bichinho – ok, biólogos, um molusco bivalve – que, diferentemente das ostras, vôngoles e mariscos, tem suas valvas menores e juntas em uma de suas extremidades.

Esse molusco mora no tronco caído de árvores que ficam perto de zonas úmidas, como os mangues, e se alimenta do que essas madeiras têm a lhe oferecer: elas mesmas. Ao comê-las, formam túneis e as transformam em uma espécie de queijo suíço. Os caminhos que constroem nas madeiras, aliás, já renderam muito prejuízo a barcos e infraestruturas marinhas. Dizem, por exemplo, que esses pequenos moluscos causaram uma crise nos diques holandeses, após perfurarem as madeiras que os seguravam. Mas bem, falávamos de comida. E os turus, de formato comprido e mole, são alimento em muitas regiões – até o Alex Atala utilizou-os em um de seus festivais gastronômicos. Pois os moradores da Ilha de Marajó cortam os troncos já no chão e buscam os turus, tirando-os de seus buracos e os colocando em baldes ou em garrafas vazias de coca-cola para consumir e vender. E vendem a bom preço, por um bom motivo: por aqui esse bichinho rico em cálcio e ferro é também conhecido como o viagra de Marajó.

Os mais ansiosos podem comer o bichinho ali mesmo, fresquinho, puro ou com um pouco de limão. Mas a esposa do Haroldo, o guia que nos levou a uma aventura de bicicleta pela ilha, cozinhou pra gente o caldo de turu, com alguns legumes e, claro, coentro, tão comum por aqui quanto o sal. “Puro tem gosto de madeira; cozido parece ­ostra”, revelou o João, namorado e parceiro de viagem. Essa eu passei. Mas incentivo.

Para ir: consulte os guias locais

Primeira etapa: esperar a maré baixar para encontrar os troncos úmidos caídos, onde os turus moram e se alimentam

Primeira etapa: esperar a maré baixar para encontrar os troncos úmidos caídos, onde os turus moram e se alimentam

Limpá-los é importante e parte do ritual: é só tirar as vísceras, uma gosminha mais escura, como a que tem o camarão

Limpá-los é importante e parte do ritual: é só tirar as vísceras, uma gosminha mais escura, como a que tem o camarão

O João jura que, bem temperadinho,¬ tem gosto de ostra

O João jura que, bem temperadinho, tem gosto de ostra

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